Veículos da Sou Transportes são alvo de fiscalização em Ubatuba
Os ônibus da Sou Transportes, empresa responsável pelo transporte público em Ubatuba, foram alvo de fiscalização na manhã de hoje no Terminal Municipal da cidade. Uma equipe da Guarda Civil Municipal, acompanhada de vereadores, identificou irregularidades que comprometem a segurança dos passageiros, como veículos trafegando com pneus careca.
A vereadora Jaque Dutra (PSB) acompanhou a ação. Logo após assumir seu mandato, nos primeiros dias do ano ela protocolou um ofício solicitando informações à Comissão de Fiscalização de Obras da Prefeitura de Ubatuba sobre as medidas adotadas em relação à empresa Sancetur (Santa Cecília Turismo Ltda), representante da Sou Transportes. O objetivo do ofício é esclarecer como a prefeitura está lidando com as infrações administrativas cometidas pela empresa e assegurar a fiscalização adequada dos serviços prestados. “O ofício busca soluções efetivas para os problemas, garantindo que os serviços de transporte público atendam às necessidades da população de forma adequada e segura”, afirma a vereadora.
A obrigação de fiscalizar a prestação do serviço é da prefeitura. Por meio da Comissão de Fiscalização de Obras do município, deve notificar a Sou Transportes sobre falhas e irregularidades identificadas na operação e fixar um prazo para correção. Uma ação anterior de fiscalização foi realizada em dezembro de 2024, quando a Guarda Civil Municipal (GCM), em parceria com a Diretoria de Trânsito de Ubatuba, apreendeu dois veículos em condições inadequadas para o tráfego. Os ônibus foram conduzidos ao Pátio Municipal no bairro do Monte Valério, mas ambos voltaram a circular no mesmo dia da apreensão.
A Sou Transportes (Sancetur Santa Cecília Turismo Ltda) foi contratada em caráter emergencial em 25 de julho de 2024, após a finalização dos serviços prestados pela Verdebus por mais de 20 anos. O contrato tem duração de 12 meses e envolve o valor de R$ 23,3 milhões para a prestação do serviço, além de verbas adicionais.
O contrato da Sancetur com a prefeitura de Ubatuba prevê a operação de uma rede composta por 23 linhas regulares: Tabatinga, Maranduba, Fortaleza, Corcovado, Rio Escuro, Lázaro, Perequê-Mirim, Rio Escuro/Horto/Lázaro, Horto, Ipiranguinha, Taquaral, Casanga, Prumirim, Ubatumirim, Almada, Picinguaba Vila, Picinguaba Divisa, Monte Valério, Bela Vista, Sesmaria, Puruba, Camburi via Praia e Horto/Taquaral/Lázaro/Maranduba. A Sou Transportes tem como obrigação contratual fornecer mão de obra local, insumos e investimentos necessários à operação, manutenção, aquisição e reposição da frota.
O documento em vigor ainda define que a frota seja composta por 38 veículos (35 em operação e 3 reservas) de modelo convencional básico, sem ar-condicionado, todos com acessibilidade e idade média de uso entre 9 e 10 anos, não podendo somar mais de uma década de fabricação. Essa definição foi feita pela prefeitura e teve como base o Estudo de Viabilidade Econômico-Financeira realizado em 2024 pela Memphis Engenharia.
Reclamações aumentam a cada dia
Entre 1º de agosto de 2024 e 13 de janeiro de 2025, a Sou Transportes recebeu cerca de 220 reclamações de usuários, todas publicadas nas redes sociais do ‘Reclame Aqui Ubatuba’ e ‘SOU Transporte Precário Ubatuba’. Entre os principais registros, estão defeitos mecânicos e estruturais nos ônibus, como pneus careca, problemas na direção, janelas lacradas, vidros que quebram com facilidade, atrasos, lotação e goteira, além de falta de freio, bateria, ar-condicionado, motoristas e até mesmo dos veículos.
O Reclame Aqui Ubatuba não conseguiu confirmar o número levantado pela reportagem, justificando não ser possível mensurar. “É difícil contabilizar, mas são muitas reclamações”, explicou um dos organizadores da página criada em 2017, que conta com 32 mil membros. O grupo reúne imagens e relatos graves, como ônibus que perdeu o freio na estrada que leva à praia da Almada, que circulou com a roda solta na linha Perequê-Mirim e com a porta do meio aberta na linha Tabatinga – via Sertão da Quina, porque rampa de acessibilidade travou.
Falhas frequentes como essa provocaram a mobilização de organizações civis, que buscam reunir o maior número possível de registros sobre os problemas do transporte público na cidade, com o intuito de dar ainda mais visibilidade à situação e, se necessário, formalizar denúncias ao Ministério Público. É o caso do ‘SOU Transporte Precário Ubatuba’, que surgiu em novembro de 2024 como grupo de mensagens, já contabiliza quase mais de 100 queixas e precisou expandir o canal.
“Como um verdadeiro pedido de socorro coletivo, começamos a nos organizar para expor os problemas em grupos de WhatsApp, páginas no Instagram, comentários em perfis de representantes da sociedade civil, e-mails para a prefeitura, abaixo-assinados, entre outros. Aos poucos, fomos ganhando atenção e sendo ouvidos por alguns vereadores. No entanto, seguimos sem respostas claras da empresa SOU e da prefeitura de Ubatuba”, afirmou o grupo em nota enviada ao Tamoios News.
O movimento apartidário formado pela população de Ubatuba luta por um transporte público digno, que não coloque vidas em risco. “Queremos exercer nosso direito de ir e vir com segurança, chegando a tempo em compromissos como trabalho, consultas médicas, lazer, visitas a parentes e amigos. Também queremos ter a possibilidade de voltar para casa com tranquilidade e, ao fim do dia, poder descansar”, explicou o grupo no comunicado.
Segundo o ‘SOU Transporte Precário Ubatuba’, a população de Ubatuba que utiliza o transporte público vem sofrendo há meses com ônibus sucateados que colocam vidas em risco diariamente. O grupo ressalta que a empresa anterior de transporte não era das melhores, mas, com a entrada da atual concessionária, a Sou Transportes, o cenário que já era difícil transformou-se em um verdadeiro pesadelo.
“Ônibus quebrando no meio da pista, atrasos de horas, mudanças de horários que prejudicam a rotina dos usuários, motoristas exaustos e irritados por terem que dirigir veículos em condições precárias, terminal de ônibus abandonado, água do ar-condicionado caindo nos passageiros, janelas travadas e falta de ar-condicionado, pneus carecas, ônibus sem freios — a lista de problemas não para. Além disso, a Sou Transportes não disponibiliza um canal oficial de reclamação. Estamos sem ter com quem falar sobre os absurdos que ocorrem quase diariamente”, constata o comunicado.
Moradores de Ubatuba ouvidos pela reportagem contam que os problemas com o transporte público no município são antigos. Segundo os relatos, na gestão anterior, feita pela Expresso Verde Bus, já ocorriam atrasos, falta de motoristas e ausência de linhas em algumas comunidades. Algumas linhas cumpriam trajeto passando por três bairros e, com isso, o tempo de deslocamento tinha duração três vezes maior que o normal. Isso causava transtorno aos moradores que usavam o transporte público para se deslocar ao trabalho e compromissos particulares, sem citar uma piora considerável em épocas de temporada.
“Os problemas antigos pioraram. Os ônibus param de funcionar com frequência por defeitos elétricos ou mecânicos, pneus carecas e falta de freios. Além disso, há casos de vidros das janelas que quebram facilmente, de goteiras, falhas de horários e até de veículos sem estrutura para entrar em comunidades, que não sobem ladeiras, por exemplo”, relata uma moradora da Vila de Picinguaba, na região norte do município.
Na região sul, uma moradora da comunidade da Praia da Fortaleza contou à reportagem que já presenciou a dificuldade de um motorista em manobrar o veículo, que estava sem óleo hidráulico na direção. Segundo a usuária, o condutor avisou a Sou Transportes por telefone e foi orientado a retornar ao ponto final como “Especial”, assim não precisaria parar nos pontos. Os passageiros que já estavam no ônibus continuaram a viagem, mesmo com o veículo sem condições adequadas para fazer curvas. Para ela, o carro deveria ter sido guinchado e não ter exposto os passageiros ao perigo.
Em contrapartida, uma moradora do Rio Escuro relatou nunca ter tido problemas com os ônibus da Sou Transportes e que acha a qualidade do serviço similar ao oferecido pela empresa anterior. Durante a sua gestão, a Verde Bus também foi alvo de reclamações sobre o uso de veículos velhos; rampas de acessibilidade travadas que impediam o fechamento da porta; atrasos ou horários sem carros; passageiros presos na porta; motoristas que paravam longe do ponto; janelas com defeito; sujeira e odor forte dentro dos veículos.
A Sou Transportes foi procurada, não respondeu aos questionamentos
Processo de licitação em andamento – Segundo a prefeitura de Ubatuba, como parte do processo de licitação para a contratação efetiva da nova empresa de transportes, já foram realizadas três audiências públicas para ouvir as demandas da população e esclarecer dúvidas. Os encontros ocorreram em 2024 no Teatro Municipal (Centro), no bairro Sertão da Quina (região Sul) e no Puruba (região Norte).
Em novembro de 2024, a prefeitura definiu algumas exigências para a futura prestação do serviço de transporte público da cidade, após a finalização da licitação que definirá a empresa fornecedora. As definições tiveram como base a apresentação da última etapa do estudo de viabilidade técnica realizado pela Memphis Engenharia e são: metade da frota composta por ônibus zero quilômetro e metade com no máximo 5 anos de uso; todos os veículos equipados com acessibilidade para embarque e desembarque, Wi-Fi, ar-condicionado, câmeras de segurança e call center exclusivo; frota composta por 36 veículos (23 ônibus convencionais, 6 miniônibus e 7 micro-ônibus).
Fonte : Tamoios News
Redação/Tamoios News